Jorge Valdano: «Quando ganhar não chega»
18.11.18, João Silva
Ganham jogos equipas com menos posse de bola e, como a França ganhou o Mundial, fala-se de tendência. A França foi campeã legítima pela qualidade e pelo imponente talento físico dos seus jogadores. Também pela táctica ao serviço do mínimo risco. Não tenho como prová-lo, mas creio que sendo mais ousados teriam conseguido o mesmo com mais reconhecimento público.
O Barça de Guardiola foi contagiante. Tivesse ou não os jogadores, dessem-se ou não as condições, havia que sair a trocar a bola e chegar trocando a bola. Um movimento paralelo buscou antídotos contra semelhante máquina de jogar. Mourinho foi o seu profeta com um futebol especulativo e sacrificado que necessitava de um exército que não abrisse brechas. Esta semana defrontaram-se na Premier com uma clara diferença na abordagem. Mourinho precisava de ganhar para ter razão. Guardiola, de ganhar e jogar muito bem. Uma questão de expectativas.
Diverte-me Klopp, proveniente de um país que chegou a potência através da disciplina e da ordem; gosto de Sarri, que vem de um futebol amigo do calculismo; interessa-me Guardiola, que cresceu vendo que futebol se escrevia com F de fúria. Encanta-me comprovar, no final, que em todos os lados surge gente que não ignora a coragem e a beleza.
Honra a Menotti, a Sacchi, a Cruyff, pioneiros de um jogo que aspira à grandeza (ao triunfo cultural acima de um simples triunfo) e que nunca morrerá. Respeito também o futebol com menos posse, mais sistematização, mais bola parada. Mais contenção do sentido natural de aventura que têm todas os futebolistas. Mais bolas longas, mais recuperação, mais contra-ataques. Mais área, menos campo. Dizem que mais interessante. Creio que, tratando-se de um jogo, e menos interessante o que é mais aborrecido.