Um Benfica-Sp. Braga mesmo em cima do Natal, na ronda que fecha o campeonato em 2018 e tem muito a dizer no futuro da corrida que é a Liga. Um teste a duas equipas em circunstâncias diferentes, historicamente a pender para o Benfica. Acima, de tudo, «um jogo entre candidatos, sem dúvida».
A opinião é de João Tomás, antigo goleador que jogou de um lado e doutro. Primeiro no Benfica, entre 1999 e 2001, mais tarde em Braga, em duas passagens diferentes, de 2004 a 2006 e depois em 2007/08. É ele quem olha com o Maisfutebol para o Benfica-Sp. Braga que aí vem. O que esperar, o que quer dizer o peso da história e um olhar especial para os goleadores das duas equipas.
João Tomás começa por deixar claro que, ainda que não tenha passado mais que uma década, quando jogou na Luz e depois em Braga eram outros tempos e este jogo não tinha a carga que tem agora. «No meu tempo de Benfica o Sp. Braga não tinha esta dimensão. Não se pode comparar com o meu tempo, são circunstâncias totalmente diferentes, para os dois clubes», começa por observar. A diferença é que o Sp. Braga cresceu de forma consistente desde então. «Agora o Benfica-Sp. Braga é um jogo que já se tornou um clássico. O Sp. Braga tem ganho estatuto, faz parte do processo de crescimento.»
Os minhotos assumem a ambição de chegar um dia ao título. Este ano andam ali, na luta, nesta altura a três pontos do líder FC Porto. Nas últimas épocas já têm andado a intrometer-se entre os «grandes». Este ano essa caminhada tem sido consistente. Se é uma candidatura diferente, mais forte, ainda é cedo para dizer, diz João Tomás: «Não sei se é diferente. Para quem está de fora, o que dá para perceber é que o Sp. Braga cada vez está mais preparado para fazer frente aos grandes. As classificações dos últimos anos têm mostrado exatamente isso. É visível, e agora está na luta como nunca.»
«Neste momento o Sp. Braga tem tudo, boa equipa e estrutura. Partilho da opinião do Abel. Mais cedo ou mais tarde o Sp. Braga vai ser campeão. E talvez mais cedo do que se pensa», defende.
Na Luz, João Tomás espera um Braga a assumir a ambição. «O Braga vai entrar para ganhar. Acredito que vá ser um jogo espetacular, as duas equipas a querer ganhar. O Sp. Braga visitou o Dragão há umas semanas e notou-se exatamente isso. O jogo com o FC Porto podia ter caído para qualquer um. O empate teria sido o resultado mais justo, na opinião de quem é adepto de futebol, como eu.»
Sp. Braga só venceu uma vez na Luz, o que fazer com esse peso histórico
Uma candidatura ao título implica lutar de igual para igual com os outros candidatos. Para isso, o Sp. Braga precisa de correr contra a sua história. Uma herança pesada, falando de visitas à Luz. Em toda a história, só por uma vez o Sp. Braga venceu para o campeonato em casa do Benfica. Foi em 1954/55, no Jamor. O Estádio da Luz ainda não existia, seria inaugurado pouco depois.
Somando todas as competições, o Sp. Braga só venceu por uma vez na Luz: há precisamente quatro anos, para a Taça de Portugal. Uma vitória por 2-1 que deixou o Benfica pelo caminho nos oitavos de final da competição. No banco do Sp. Braga estava Sérgio Conceição, que nessa época já tinha ganho ao Benfica de Jorge Jesus para a Liga, em casa.
João Tomás recorda que o melhor resultado que conseguiu enquanto jogador do Sp. Braga na Luz foi um nulo: «Empatei lá 0-0 em 2004.» Mas defende que os jogadores não sentem o peso desse dado histórico: «Não é coisa que pese.»
Esses registos, acrescenta, existem para ser mudados. «Contra factos não há argumentos. Mas a história vai-se escrevendo e tem é que se fazer com que essa história mude. Quer a equipa do Sp. Braga, quer a equipa do Benfica têm noção disso. A história está para se escrever. O que foi não significa que é ou que vai ser. É para isso que se trabalha em qualquer área da sociedade, para fazer melhor. O Sp. Braga tem dado esses passos, tem estado a subir patamares.»
Portanto, se dependesse de si o que faria era usar esse dado como fator de motivação adicional: «Eu invertia os papéis. Dizia: vai ser agora. É certamente com essa mentalidade que o Sp. Braga vai entrar e o Benfica saberá que o Sp. Braga vai para ultrapassar esse registo histórico.»
O Sp. Braga venceu todos os jogos que se seguiram à derrota no Dragão: cinco, três para a Liga e dois para a Taça de Portugal. O Benfica também vai numa série de resultados positivos, seis vitórias seguidas depois de o lugar de Rui Vitória ter chegado a estar em risco. As quatro últimas pela margem mínima e com a equipa a deixar em campo sinais que não são convincentes. «O Benfica vem numa série de vitórias consecutivas. O que se lê e o que se vê é que não tem feito grandes exibições, e eu partilho essa avaliação. Ainda agora em Montalegre para a Taça foi mesmo requisitos mínimos. É certo que mudaram muitos jogadores, era um relvado difícil e também falhou algumas oportunidades, mas é unânime que o Benfica não está a praticar um bom futebol», observa João Tomás, acreditando que as águias têm capacidade para melhorar: «A qualquer momento as coisas podem inverter-se. A equipa tem bons jogadores, tem o treinador que foi bicampeão.»
«Delicio-me a ver Dyego Sousa e Jonas jogar»
Há muitos enredos no Sp. Braga-Benfica e entre eles o duelo entre dois goleadores. De um lado Dyego Sousa, o melhor marcador da época, já com 14 golos esta época, 10 deles na Liga. Do outro Jonas, 130 golos nas quatro épocas e meia que leva do Benfica, melhor marcador em 2015/16 e 2017/18. De regresso à equipa depois de ter começado a temporada a suplente, com oito golos na temporada e cino na Liga.
Muito do jogo ofensivo das duas equipas dependerá deles e João Tomás, ele que marcou 100 golos na Liga e em 2000/01, no Benfica, foi o melhor marcador do campeonato, deixa um olhar especial para eles.
«Delicio-me a ver os dois jogar. Todos com uma capacidade goleadora notável», começa. «O Jonas está mais atrasado esta época, mas mais tarde ou mais cedo vai encostar lá em cima.»
«Acho que também nesse aspecto será um bom duelo, embora o jogo não seja só isso», observa, analisando as características de cada um dos avançados de Benfica e Sp. Braga: «O grande forte deles, de formas diferentes, é a capacidade de finalização. O Dyego Souza é um jogador de mais duelo, de mais posicionamento para poder finalizar. O Jonas é mais móvel, movimenta-se muitas vezes para aparecer no momento para finalizar. Foi-se também modelando àquela posição, antes era muito mais móvel do que é agora. O Dyego Sousa também é obrigado a trabalhar mais defensivamente.»
A rematar, o antigo internacional português deixa só um desabafo. «É pena é nenhum ser português. É sempre a grande lacuna. Até o Wilson Eduardo agora é angolano…»